Três dias em Taracúa

Em homenagem ao Luis Carlos, que faleceu na volta, depois do Seminário de EEI realizado em Taracúa.

Em homenagem ao Luis Carlos, que faleceu na volta, depois do Seminário de EEI realizado em Taracúa.

Na ida animado e na chegada triste. Era mais um evento voltado para discutir e compartilhar conhecimentos, sabres e práticas sobre a educação escolar indígena. Depois, de dar o pontapé inicial em Itapereira, uma comunidade que fica no médio Rio Negro, duas horas descendo do Porto de Camanaus, de São Gabriel da Cachoeira, era a vez, do pessoal, da região Baixo, Médio e Rio Tiquié fazer o mesmo: Discutir os problemas e elaborar propostas para o Seminário Regional previsto para o mês de maio.

A última viagem que fiz pra lá (Taracúa), foi em dezembro de 2007. De lá pra cá, muita coisa aconteceu, na época, a minha ida pra Taracúa, tinha como objetivo participar de um Curso de formação continuada para professores indígena para o ensino médio. Novo e inexperiente, e único representante da Escola Baniwa e Coripaco Pamáali, na época, buscando caminhos e dando passos iniciais da luta de implantação de ensino médio. Portanto, era conhecer as experiências das escolas estaduais que já estavam funcionando há alguns anos. Em duas semanas, conhecí experiências, histórias de pessoas, e como amarrei amizades. Que se tornaram meus contatos para continuar acompanhando o movimento de lá depois do evento.

Dessa vez, final de fevereiro desde ano, minha missão no evento foi registrar, conhecer as histórias, as experiências em fotos e vídeos. E lá acabei novamente relatando um pouco da experiência que obtive na escola Baniwa, desde os tempos de estudante, até ao de Coordenador, o posto que tive o privilégio de assumir, antes de iniciar uma nova etapa de experiências. E enfim…

Durante os três dias em Taracúa, foi rico em vários sentidos. A volta pra rever os amigos, aprender e contar um pouco da história de luta e conquistas do meu povo em relação ao tema educação escolar indígena. Mas, o que fez, dessa viagem inesquecível, não foi uma coisa boa, ou que não eu não esperava. A perda de um grande amigo e companheiro de luta, que conhecí, exatamente, em 2007, quando participei do evento em Taracúa: Luis Carlos.

Era um domingo, 02/03, depois do almoço, debaixo de uma forte chuva, já umas três da tarde, quando dois botes saíram do porto de Taracúa, num deles (da SEMEC-SGC), ele no meio. Uma viagem que o levou e que seria a última, e sem volta. Dia antes, fomos subir na pedra atrás da antiga casa de hospedagem da Missão Salesiana, admirando a vista linda e trocando as máquinas fotográficas. Eu tirando fotos dele, e ele (uma que vai nesse post) tirando as minhas. Ficamos ali conversando, quando aparece o irmão dele, Tarcísio, para fazer companhia…Na conversa, voltamos no túnel do tempo…”o nosso irmão (Gersen) estou aqui”, ele lembrou, “aqui é o único lugar um presidente já pisou”- comentou Tarcísio. E logo, o sino do jantar nos interrompeu e voltamos.

Na segunda de tarde, quando eu e mais companheiros chagamos no Porto da Queiróz, em São Gabriel da Cachoeira, recebemos a notícia: “O Luis Carlos, desapareceu, num acidente aí acima na volta, até agora, ainda não encontraram o corpo dele”- disse Abraão Mendes, que foi eleito (Tesoureiro), junto com ele, ainda em 2013. O Luis, era o Presidente (da Associação dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro – APIARN).

Foi um choque enorme, ninguém estava esperando por isso. Todos, ficaram abalados por essa perda. Muitos, entre eles, eu, são testemunhas, da dedicação e do compromisso que Luis tinha e demonstrou desde na época de professor, e mais recentemente, como representante e liderança indígena.

Os três dias em Taracúa (28/02 a 02/03), ficaram na lembrança e na saudade. Que o meu grande amigo e líderança indígena do rio Negro, descance em Paz.